domingo, 30 de maio de 2010

Yuri Bashmet – Andante e Rondó Húngaro para viola e orquestra, op.35 – Weber

Carl Maria von Weber (1786-1826), foi um dos pioneiros do Romantismo alemão, no início do século XIX. Weber escreveu a primeira versão do Andante e Rondó Húngaro para viola e orquestra, op. 35 em 1809, dedicando-a ao seu irmão violetista Fritz. Em 1813 foi transcrita para fagote pelo próprio compositor, a pedido do fagotista Georg Friedrich Brandt.
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O Andante e Rondó Húngaro é um dos trabalhos que ilustra o fascínio pelo antigo Império Austro-Húngaro, pelos tradicionais elementos culturais das regiões da Hungria. Weber não foi o primeiro nem o último a integrar elementos da música húngara a fim de compor uma peça.

O Andante apresenta uma melodia extremamente simples, sobre as cordas em pizzicato, seguindo-se três variações. Na primeira, a orquestra toca o tema original, enquanto a viola tece em torno dele. O solista desenvolve a segunda variação em mais um romance. A terceira variação chega com a viola apresentando um papel ainda mais marcante.

A forma Rondó, ou Rondo em italiano e em francês Rondeau, é uma composição musical onde há uma frase recorrente (A), fácil de memorizar, geralmente leves e alegres, alternadas com várias frases novas (B, C, etc.), com diferente carácter e humor. A estrutura do rondó seria então ABACA…

Na obra musical apresentada, a frase recorrente no Rondó é retirada de uma melodia popular Húngara, entrelaçada com uma série de episódios. No final a viola dedica-se a efeitos virtuosos, num final particularmente amável.
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Dou-vos a conhecer a obra com Yuri Bashmet na viola solo e direcção musical, e os Solistas de Moscovo.



terça-feira, 25 de maio de 2010

Os grandes Violetistas - Yuri Bashmet


Yuri Bashmet nasceu a 24 de Janeiro de 1953. É um violetista e maestro Russo.

Estudou no Conservatório de Moscovo com Vadim Borisovsky - violetista do Quarteto Beethoven. Após a morte deste, continuou a sua formação com Fyodor Druzhinin, de quem viria a ser assistente, tornando-se no mais jovem professor de sempre do Conservatório de Moscovo.

Em 1972, Bashmet comprou uma viola de 1758 fabricada pelo luthier Paolo Testore, que ainda usa em apresentações. Foi premiado em vários concursos de viola, atraindo o reconhecimento internacional. Desde então, apresentou-se com as mais destacadas orquestras mundiais, incluindo a Filarmónica de Berlim, a Filarmónica de Viena, a Sinfónica de Boston, a Sinfónica de Chicago, a Sinfónica de Montreal, a Filarmónica de Los Angeles, a Filarmónica de Londres, entre outras.

O talento de Yuri Bashmet inspirou numerosos compositores contemporâneos que escreveram obras para viola d’ arco que lhe foram dedicadas, estabelecendo relações particularmente próximas com Alfred Schnittke e Sofia Gubaidulina.

Em 1992 fundou os Solistas de Moscovo, agrupamento que dirige e com o qual se apresenta em todo o mundo.

Desde 2002, Yuri Bashmet é maestro principal da Orquestra Sinfónica da Nova Rússia, tendo dado numerosos concertos e realizado digressões por diversos países.

No domínio da música de câmara colaborou com muitos artistas de renome, incluindo Sviatoslav Richter, Gidon Kremer, Mstislav Rostropovich, Maxim Vengerov, Natalia Gutman, Viktoria Mullova e o Quarteto Borodin.

Gravou um vasto repertório discográfico, tendo sido reconhecido, e nomeado para um Grammy Award.

NF

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tabea Zimmermann - Harold en Italie, op. 16 - Berlioz

Harold en Italie, op. 16, é uma obra sinfónica para viola solo e orquestra, composta por Hector Berlioz em 1834.
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Niccolò Paganini, compositor e violinista virtuoso, após adquirir uma soberba viola Stradivarius, incentivou o compositor Berlioz a escrever a obra Harold en Italie. Berlioz começou a compor para viola solo, envolvendo também a orquestra, de modo a não reduzir a eficácia da sua contribuição. Quando Paganini viu o esboço, não aceitou, pois esperava tocar continuamente a solo. Acabaram-se por se separar, deixando Paganini decepcionado. Mais tarde reconciliaram-se, quando Paganini se apercebeu da qualidade da obra musical.

Efectivamente Harold en Italie não é um concerto para viola - daí o espanto inicial de Paganini. A parte de viola é na verdade livre de um extremo exibicionismo técnico. A obra acaba por ser uma obra sinfónica para viola solo e orquestra, dividida em quatro andamentos:

I. Harold aux montagnes (Harold nas montanhas) - Cenas de melancolia, felicidade e alegria de Harold nas montanhas. A orquestra (violoncelos e contrabaixos) instala logo um clima sombrio e misterioso num andamento fortemente cromatizado, dando lugar a uma melodia nas madeiras, até que a viola se apresenta na íntegra com o tema de Harold, a denominada ideia fixa. O andamento continua a sua subida em alegria com um efervescente e implacável allegro, permitindo a viola reafirmar a ideia fixa, sobrepondo-se a um outro fugato, antes de acelerar o ritmo levando o andamento ao fim.

II. Marche des pélerins chantant Prière du soir (Marcha dos peregrinos cantando o hino à noite) - É a evocação de uma procissão de peregrinos no campo, escutando-se a marcha ao longe que se aproxima e depois se afasta. O andamento é notável pelas suas modulações ousadas. A viola entra novamente na secção do meio, liricamente apresentando a ideia fixa na periferia da marcha, antes de assumir um papel de acompanhamento - como uma procissão que se move para longe.

III. Sérénade d'un montagnard des Abruzzes à sa maîtresse (Serenata de um alpinista dos Abruzzos à sua amante) – Começa com uma réplica exacta de "gaitas" italianas. O efeito rústico é concluído totalmente com a introdução da melodia principal (a serenata) pelo corne inglês. A viola reafirma a melodia da ideia fixa e o movimento desenvolve-se com Berlioz a expor o contraponto entre as duas melodias. Termina o andamento num tom aparentemente pacífico.

IV. Orgie des brigands (Orgia de bandidos) – A introdução da viola lembra várias ideias temáticas dos andamentos anteriores, rudemente interrompido pelo acorde fortissimo de toda a orquestra - impetuoso ritmo que forma a orgia em si. Retoma a viola brevemente com a Marche des pélerins e uma declaração final do tema de Harold, como uma lembrança nostálgica do compositor.
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Harold em Itália estreou a 23 de Novembro de 1834 com a Orchestre de la Société des Concerts du Conservatoire, com Chrétien Urhan na viola, sobre a direcção de Narcisse Girard.

Dou-vos a conhecer a obra Harold en Italie, op. 16, com Tabea Zimmermann na viola e a orquestra de Paris, sob a direcção de Christoph Eschenbach - Sem dúvida uma obra encantadora…











Nota: A chefe de naipe das violas d’arco é a nossa querida violetista Portuguesa, Ana Bela Chaves, que há muitos anos integra a Orquestra de Paris!

Os grandes Violetistas - Tabea Zimmermann



Tabea Zimmermann, nascida a 8 de Outubro de 1966 em Lahr, na Alemanhã, é uma violetista muito conceituada da actualidade.

Ela começou a aprender a tocar viola com três anos de idade.
Aos 13 anos de idade, foi estudar para o Conservatório de Freiburg com Ulrich Koch, e prosseguiu os estudos com Sándor Végh no
Mozarteum (Universidade de Salzburgo).

Logo alcançou notoriedade em competições internacionais, ganhando os primeiros prémios em Genève (1982), Budapeste (1984), e Maurice Vieux - Concurso Internacional de Viola, em Paris (1983), no qual foi premiada com um excelente instrumento feito pelo luthier Vatelot Étienne em 1980, instrumento que desde então a tem acompanhado em tournées de concertos por todo o mundo.

Como solista já tocou com numerosas orquestras, incluindo a Orquestra Gewandhaus de Leipzig, a Orquestra Filarmónica de Berlim, a Filarmónica da BBC, a Orchestre de la Suisse Romande, sob a direcção de conceituados maestros.

Altamente comprometida com o repertório do século XX, ela atingiu sucesso notável com a estreia em 1994 da Sonata para viola solo, de György Ligeti.

Leccionou classes de viola d’arco a nível superior em reconhecidas Universidades, e desde 2002 é professora de viola e música de câmara na Hanns Eisler Academy of Music, em Berlim.
As suas realizações e contribuições artísticas valeram-lhe inúmeros prémios nacionais e internacionais.

AFP

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Viola d’arco em diversas formações instrumentais

Este instrumento tem a particularidade de se poder apresentar em diversas formações instrumentais: a solo, em música de câmara ou em orquestra.

Solo é o desempenho de um só instrumento/artista e o trecho musical por este executado. A palavra solo vem da língua italiana, e significa sozinho.




Música de câmara é uma forma de música composta para um pequeno grupo de instrumentos ou vozes que tradicionalmente podiam acomodar-se nas câmaras de um palácio. Actualmente a expressão é usada para qualquer música executada por um pequeno número de músicos.
Entre os seus géneros mais importantes de música de câmara estão o quarteto de cordas, entre muitas outras diversas combinações de instrumentos. Pode haver também a execução em duo, trio ou mais formações. Nestes casos, geralmente prescinde-se da regência de um maestro. De entre os duos mais comuns encontram-se as Sonatas, normalmente acompanhadas por um instrumento de tecla.








Orquestra difere-se dos outros grupos por ser composta por um número considerado de músicos de diversos instrumentos, e existir a participação de um maestro, o que não acontece com os grupos de música de câmara. Às pequenas orquestras dá-se o nome de orquestras de câmara.
A viola na orquestra pode fazer parte do tutti (todo o conjunto) ou tocar sobre o seu acompanhamento, destacando-se como solista. De entre as composições mais comuns neste tipo de formação em que a viola ganha o protagonismo principal encontram-se os Concertos.


sábado, 8 de maio de 2010

O papel da viola e o seu repertório

Durante muito tempo a viola d’arco teve uma importância reduzida, pois era prática corrente os compositores não escreverem nas partituras as vozes intermédias das suas obras, ficando esta tarefa a cargo dos copistas.

Na música orquestral este instrumento foi um elemento chave de preenchimento harmónico, servindo como um complemento à melodia. Um pouco como o sal na comida: não é o ingrediente principal, mas é sem dúvida indispensável. A viola era então reduzida ao papel de dobrar as outras vozes, até que Bach e Händel lhe começaram a confiar partes bem mais importantes. E com o passar dos tempos, cada vez mais os compositores evidenciaram o papel da viola nas partes orquestrais, tais como Elgar e Richard Strauss.

Também na música de câmara as partes de viola dos quartetos de cordas de Haydn e de Mozart testemunham já um grande desenvolvimento técnico. Mas foi sem dúvida em quartetos de Beethoven, Dvorák, Shostakovich ou Schoenberg que a viola obteve um papel bem destacável.
É com Carl Stamitz, compositor e violetista, que a viola começou a apresentar-se como instrumento solista, embora Telemann já tivesse composto o seu concerto para viola e orquestra. Foi então a partir do séc. XVIII que a viola começou a evidenciar-se a solo, posteriormente com compositores tais como Berlioz, Brahms, Max Reger, Glinka entre muitos outros.

O repertório da viola d’arco é igualmente enriquecido com muitas transcrições de obras escritas para outros instrumentos. Mas o poder expressivo da viola é notável, surgindo no séc. XX os grandes virtuosos, atraindo o interesse de muitos compositores. Entre os violetistas se destaca Lionel Tertis, como sendo o primeiro a elevar a viola d’arco a estatuto de solista, seguindo-se William Primrose. Este instrumento assistiu então ao seu período áureo na história da música com compositores tais como Walton, Bartók e Martinů, explorando os limites técnicos do instrumento ao máximo. Um outro compositor, destacado pela quantidade de obras-primas para a viola d’arco, foi Paul Hindemith. Sendo ele próprio violetista, realizou a estreias das suas obras.
Na última metade do século XX, continuou a ser produzido um repertório substancial de obras para viola. Muitos compositores, incluindo Schnittke, Sofia Gubaidulina, Kancheli e Penderecki, escreveram concertos para viola.

E chegamos ao séc. XXI! O repertório deste instrumento não ficou por aqui. Amanhã há mais!...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ao longo da história…

Na história da música clássica, a viola tem desempenhado um papel bastante importante, reconhecida por diversos compositores e autores de tratados. Na verdade, a viola d’arco foi a Cinderela da família no século passado (séc. XX), que com o seu notável poder expressivo fez surgir os grandes virtuosos da viola, atraindo o interesse de muitos compositores.

A evolução da viola d’arco teve início por volta de 1500, em Itália, a partir de instrumentos de arco anteriores. Ou seja, não há ao certo uma origem determinada, mas sim um conjunto de mudanças ao longo dos tempos, até à estrutura que hoje conhecemos.

O termo viola na Idade Média era uma denominação comum entre todos os instrumentos de cordas tocadas com arco, existindo muitas variações que correspondiam a cada uma das extensões da voz humana.
A forma da viola d’arco como é hoje conhecida não foi inventada, mas foi sim o resultado de uma evolução de formas diferentes, por artesãos diferentes. Há pinturas e outros documentos, que provam ao longo dos tempos, que os luthiers (construtores de instrumentos) experimentaram vários formatos e tamanhos os instrumentos de arco.

De qualquer forma, os primeiros a construírem estes instrumentos com a forma que conhecemos hoje em dia foram Andrea Amati, (n. 1505) e Gasparo da Salò (n. 1540). Os instrumentos feitos por estes luthiers italianos possuem um tamanho bastante maior do que o da viola actual. Mais tarde fabricaram-se instrumentos mais pequenos, existindo belos exemplares deste tipo feitos por Andrea Guarnieri entre 1676 e 1697.
O ilustre luthier Antonio Stradivari, discípulo de Niccolò Amati, também se dedicou à construção de violas. Existe um excelente exemplar de uma viola Stradivari, conservada no seu estado original, que faz parte de um quinteto de instrumentos de corda fabricado por este luthier para a Corte de Médicis, e encontra-se hoje no Conservatório de Florença. Datada de 1690, tem 47,8 cm de comprimento e a sua sonoridade é excelente.

Muitos foram os violetistas que tiveram o privilégio de experimentar estes excepcionais instrumentos. Um deles Primrose, que tocou numa viola Amati, anteriormente herdada do seu pai. Essa mesma viola é agora propriedade de Roberto Díaz, violetista de renome internacional.

Com o decorrer dos tempos a arte da lutherie foi crescendo e aperfeiçoando, até encontrar o que consideraram ser o modelo ideal, variando ligeiramente na amplitude da caixa de ressonância e no próprio tamanho da viola d’arco.